Em 11 de março de 2020, a OMS declarou que o estado de contaminação do COVID-19 alcançou um nível de disseminação geográfica que a caracteriza como uma pandemia. Por consequência, escolas, comércios e clubes esportivos foram cancelando suas atividades presenciais nas semanas seguintes em todo o mundo. A situação se agravou e se estendeu tanto que os Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio, tiveram que ser prorrogados para 2021. Mas como ficaram os atletas que treinavam para os jogos? E os atletas que treinavam para outras competições? E as crianças e jovens que se envolviam em atividades esportivas em suas escolas e clubes locais? Bom... Cada um de nós que vivencia um pouco os diversos contextos das manifestações do esporte pode responder uma parcela dessas perguntas.
No nosso caso (Thais e Vitor), que estamos envolvidos com a prática esportiva no contexto de educação e participação de crianças e jovens, a realidade foi a mesma. Inicialmente, acreditamos que a pausa nas atividades presenciais duraria poucas semanas, então encaramos as atividades online como um desafio temporário. Gravamos vídeos para nossos alunos, criamos atividades assíncronas e torcemos para que aquilo passasse rápido e para que voltássemos para nosso ambiente de trabalho o mais rápido possível. No entanto, infelizmente hoje escrevemos esse texto em março de 2021 com dúvidas sobre quando retornaremos ao “antigo normal”, se é que ele existirá algum dia novamente.
De junho a dezembro de 2020, eu (Vitor) tive a oportunidade de ministrar uma capacitação profissional de sete meses para a Experimento, um dos locais que a Thais trabalha. Ao longo da capacitação discutimos profundamente como promover o Desenvolvimento Positivo de Jovens pelo esporte e de que maneira nossas aulas poderiam potencializar o ensino de habilidades para a vida. Criamos uma expectativa grande ao longo desses meses sobre como seria quando retornássemos para a prática. Debatemos possíveis percepções de nossos alunos, dificuldades que sentiríamos, considerações dos pais e barreiras diversas...
No dia 15 de outubro de 2020, Dia do Professor e do meu aniversário, eu (Thais) retornei com as atividades presenciais na modalidade que trabalho, a Ginástica Rítmica. Eu não via a hora de voltar! E com todos os meses da pandemia que havia passado me capacitando e refletindo sobre tudo à minha volta, me sentia pronta para isso. Apesar de a aula ter sido fantástica para mim, foi um choque ver todas as minhas alunas de máscara e não poder ver seus rostos e ter que seguir todos os protocolos de distanciamento e higienização. Ver minhas alunas depois de seis, oito meses e não poder dar um abraço nelas foi muito difícil! Mas ao longo desses meses que venho atuando e seguindo os protocolos para a prevenção da contaminação pelo vírus, venho também aprendendo muito pessoalmente e profissionalmente.
A partir das conversas que tivemos nos últimos meses por meio de longos áudios no WhatsApp (mais conhecidos por nós como podcasts, por causa da longa duração) e da live que fizemos no Instagram, gostaríamos de compartilhar com vocês três dicas que podem auxiliar professores e treinadores que já retornaram ou estão prestes a retornar com as atividades presenciais:
Dica 1: Preocupe-se com o aspecto emocional de seus alunos: Apesar de pensarmos, inicialmente, que devemos retomar os conteúdos que tratávamos até a paralização e que estamos “atrasados” com o desenvolvimento motor e técnico de nossos alunos, o distanciamento social levou também a déficits emocionais pela falta de interação com outras pessoas fora do ciclo familiar. É fundamental que nossos alunos se sintam acolhidos no ambiente de aula/treino e que aquele é um local seguro para se divertir e interagir com outras pessoas. Tenha certeza de que seus alunos retornarão para casa com vontade de voltar para a próxima aula/treino.
Dica 2: Tenha comportamentos que estejam verdadeiramente alinhados com seus princípios: Como mencionei anteriormente, eu (Thais) utilizei o momento da pandemia para descobrir ainda mais o que me move enquanto pessoa e profissional e o que quero para minhas alunas. Agora, é o momento de colocar isso em prática e deixar de lado práticas que não estão de acordo com a minha filosofia. Será que as broncas, castigos e feedbacks negativos que tanto recebemos quando éramos atletas ainda precisam ser reproduzidos diariamente por nós?
Dica 3: Aproxime-se dos pais de seus alunos: Ao longo de toda a pandemia, nossos alunos permaneceram um longo período com seus pais e ninguém melhor que eles para nos dizer como que nossos alunos lidaram com esse período. Assim, tente saber mais sobre as dificuldades que sentiram, o que estão achando do retorno das atividades e se existe algo que você possa fazer para que esse momento seja ainda mais positivo. Por fim, compartilhe com os pais os protocolos de distanciamento e higienização que você adotará nas aulas/treinos e tenha certeza de que eles estão de acordo.
Que todos possam ter um retorno excelente das atividades presenciais e que a cada dia possamos criar as lembranças positivas do amanhã.
Vitor Ciampolini¹ e Thais Gonçalves²
¹Equipe Life Skill Brasil e ²Sociedade Hípica de Campinas