O processo de coaching esportivo é marcado por ciclos constantes de planejamento-condução-avaliação de treinamentos e competições, também conhecido como ciclo PCA. Todavia, como sabemos que a intervenção do treinador é uma atividade pedagógica que se baseia nas relações humanas, o ciclo PCA não é estável e linear, necessitando de adaptações constantes. Esses ajustes normalmente acontecem durante a própria prática do treino em que contínuas reflexões na ação e tomadas de decisão são necessárias.
Com base nos planejamentos estabelecidos para o treino (objetivos, conteúdos, progressões, critérios de êxito) o treinador deverá conduzir os desafios (atividades, tarefas) e direcionar suporte aos seus atletas/praticantes dentro de uma abordagem de treino clara. A abordagem do treino é definida pelo próprio treinador, pautado em suas crenças, filosofia do ambiente que trabalha e por metas a curto, médio e longo prazos. Ao definir sua abordagem de treino é fundamental que o treinador adote comportamentos pedagógicos adequados a sua decisão. Um dos erros mais comuns de treinadores que não possuem clareza em sua abordagem pedagógica é o excesso de informações e correções em momentos do treino e competição em que o atleta deveria ser estimulado a desenvolver a autonomia na sua aprendizagem. Por exemplo, em modalidades coletivas costuma-se adotar metodologias com foco em problemas táticos em que os critérios de êxitos se relacionam com movimentações com ou sem bola, baseado na tomada de decisão individuais e coletivas. Contudo, é muito comum, os treinadores exagerarem em instruções e reforços de movimentação sem dar a chance de os atletas perceberem as informações do ambiente ou serem estimulados a pensar por meio de questionamentos.
Diante disso, é essencial que os objetivos do trabalho e critérios de êxito sejam claros ao treinador e aos próprios atletas. Mesmo com objetivos que extrapolam as condições técnicas ou táticas da modalidade, como incluir uma habilidade para a vida a ser praticada, o treinador deve explicitar aos praticantes no início do treino para que a atenção e o foco sejam dirigidos em uma espécie de aquecimento cognitivo para a parte central no treino. Além disso a capacidade de negociação das metas a serem alcançadas, definindo desafios individuais a cada participante pode potencializar a motivação intrínseca deles. Por meio dos objetivos definidos e critérios de êxito claros a todos, o treinador é capaz de comunicar de maneira efetiva executando ajustes necessários, aumentando ou diminuindo o nível de exigência de acordo com as respostas dos atletas ao longo das atividades. Lembramos que a comunicação do treinador não apenas se refere a emissão de instruções, reforços, feedbacks ou questionamentos. Sobretudo, saber ouvir e compreender as demandas que os participantes possuem é essencial para uma comunicação efetiva, em que o objetivo final é a aprendizagem dos participantes.
E você , como tem conduzido o seu treino?
Michel Milistetd
Consultor Científico Life Skill Brasil