Hoje chegamos ao fim das discussões acerca do ciclo PCA aplicado às habilidades para a vida e é importante debatermos sobre duas perguntas que sempre surgem nas palestras, capacitações e consultorias do Life Skill Brasil. Quando abrimos para perguntas alguns treinadores e professores nos perguntam: (1) “Como eu faço para avaliar se as Habilidades para a Vida foram desenvolvidas e transferidas?”; (2) “O que garante que as habilidades para a vida serão desenvolvidas a partir das minhas intervenções?”.
Bom... Vamos começar pela primeira pergunta. Como vimos no texto passado publicado aqui no blog, avaliar no esporte é um processo complexo que exige a atenção de treinadores para diversos parâmetros, princípios, objetivos e procedimentos. Assim, inicio minha resposta aos treinadores fazendo a seguinte proposta: “Simples! É só usarmos um drone para seguir nossos alunos no dia a dia e anotar sempre que apresentarem comportamentos positivos e negativos!” É claro que essa resposta não passa de uma brincadeira. Mas ao mesmo tempo, ela traz um ponto de vista importante: Precisamos identificar os comportamentos no esporte, inicialmente, para depois saber sobre os comportamentos dos nossos alunos fora do esporte!
No esporte, o primeiro passo é ampliar o nosso olhar analítico, ou seja, não devemos apenas analisar se a técnica da braçada na natação melhorou ou se o saque no tênis está com uma finalização mais adequada. Devemos também analisar como os alunos estão lidando com situações de frustração, como estão trabalhando em equipe, como lideram os colegas para atingir o objetivo do grupo, entre outros. Treinadores possuem um olhar muito aguçado e precisam utilizar esta competência a seu favor neste aspecto socioemocional.
Fora do esporte, é fundamental que contato seja feito com as pessoas que participam dos demais ambientes que os alunos estão presentes, tais como professores escolares, membros da comunidade, familiares e amigos. Esse contato pode ser simplesmente feito por mensagens e ligações ou até por meio de reuniões.
No entanto, se os treinadores preferirem algum método mais quantitativo para esta avaliação, podem optar por alguns questionários já traduzidos para a língua portuguesa, como a Escala de Orientação Multidimensional do Fair Play (EOFMP), a Escala de Habilidades para a Vida no Esporte (P-LSSS), a Versão Portuguesa do Questionário de Experiência de Jovens no Esporte (P-YES-S) ou a Versão Portuguesa do Positive Youth Development – Short Form (P-PYD-SF).
Por fim, quanto à segunda pergunta feita sobre “garantir o desenvolvimento”, normalmente também respondo com outra pergunta: “O que garante que o treino técnico-tático que elaboramos e ministramos aos nossos alunos fará que eles não errem na competição?”. Enquanto treinadores, sabemos que isso não é possível. Na Ginástica Artística, por exemplo, todos atletas treinam intensamente durante anos uma sequência de acrobacias para apresentação na competição e ainda acabam cometendo erros, mesmo que pequenos. O ponto é: o comportamento e desenvolvimento humano não é uma ciência exata e não há uma resposta direta para um estímulo recebido. Esse processo é muito sinuoso e dependerá demasiadamente dos fatores contextuais (pressão psicológica externa e relações com colegas, familiares e treinadores) e pessoais (experiências prévias, personalidade e disposições).
Nossa mensagem final é: Esteja atento aos comportamentos de seus alunos no ambiente esportivo, utilize procedimentos quantitativos e qualitativos para coletar informações relevantes e faça contato com pessoas presentes em outros ambientes que os alunos frequentam.
Vitor Ciampolini
Equipe Life Skill Brasil